Trecho do programa MAIS COR EM SUA VIDA, que inaugurou oficialmente as
transmissões em cores da TV Tupi, em 31 de março de 1972. Foi
apresentado por Walter Foster e Cidinha Campos e teve a participação de
grandes astros da MPB. A fita com a gravação desse programa histórico
foi encontrada casualmente durante os trabalhos de recuperação do que
sobrou do acervo da TV Tupi,feitos pela TV Cultura, a Fundação
Pro-Memória e a Cinemateca Brasileira, em 1990. Os trechos aqui
disponíveis foram apresentados na série de programas apresentados pela
TV Cultura, em 1990, por ocasião das comemorações dos 40 anos de TV no
Brasil. O programa se chamava 40 ANOS DE TV, era apresentado por Júlio
Lermer e era levado ao ar`nas tardes de domingo.
Carlos Imperial e a Banda Black Rio criaram a Dança do Figueiredo, que virou hit das pistas de dança em 1979. Servia
de trilha para o concurso de discothèque das noites de sábado na Tv
Tupi, decidido por jurados como Édson Santana (o eterno Rei Momo
carioca), Eustáquio Senna, Cláudio Cunha e o comediante Tutuca, que não
se conteve e simulou um rápido strip tease enquanto dançava com a
estonteante lebre Vera Garrido.
TV
Tupi de 1977 com direito a contagem de 10 segundos com a placa de aviso
"Atenção". Após o insucesso com a chamada "nova fase", a Tupi sentiu-se
obrigada a retornar a utilizar seu bom e velho logotipo, que havia sido
lançado em 1972. Isso aconteceu em 1º de agosto de 1977, quando a
emissora passou por uma reformulação administrativa, buscando a quase
impossível unidade nacional na sua linha de produção de programas e
procurou amenizar a rivalidade entre paulistas e cariocas (motivada pela
criação do Condomínio Acionário dos Diários Associados por Assis
Chateaubriandt antes de morrer) definindo que a Tupi paulista era
responsável pelo jornalismo e teledramaturgia, enquanto que a Tupi
carioca produziria os humorísticos e os shows musicais. Outro reflexo
dessa reformulação foi a mudança de horário da novela "Éramos Seis", que
passou das 19h00 para 19h30 devido a concorrência difícil de ser feita
frente a novela Global "Locomotivas" que atingia 65% de audiência. A
estratégia de mudança de horário deu certo e amenizou a crise que batia a
porta dos estúdios do Sumaré. Este video foi retirado no Banco de
Conteúdos Culturais da Cinemateca Brasileira, onde possui um vasto
acervo online da saudosa TV Tupi (www.bcc.org.br/tupi).
a Band, na época
ainda chamada de TV Bandeirantes, anunciou que produziria uma nova
versão de Drácula, que seria chamada de Um Homem Muito Especial. O
elenco seria praticamente o mesmo, bem como a direção, a cargo de Atílio
Riccó, e a supervisão de Walter Avancini.
Drácula, Uma História de Amor foi uma telenovela brasileira que estreou
em 28 de janeiro de 1980 na TV Tupi. Foi escrita por Rubens Ewald Filho,
dirigida por Atílio Riccó e estrelada por Rubens de Falco, Carlos
Alberto Riccelli e Bruna Lombardi.
A novela Drácula percorreu, em 1980, um caminho incomum: começou a ser
exibida por uma emissora e terminou em outra. Era estrelada por Rubens
de Falco, que se apaixonava pela mulher (Bruna Lombardi) do filho
(Carlos Alberto Riccelli). Teve poucos capítulos na Tupi. Foi retomada
meses depois na Band. Quando a
greve se intensificou, a novela tinha apenas cinco capítulos
gravados, dois deles sonorizados. A emissora passou a reprisar os poucos
capítulos já exibidos, dizendo ser um pedido do público, mas não
passava de uma desculpa para burlar a crise. A novela Como Salvar Meu
Casamento teve o mesmo problema e também saiu do ar. O derradeiro capítulo de Drácula foi
apresentado em 6 de fevereiro. A partir do dia 11 daquele mês, começou
nova reprise. Em seguida, a emissora passou a reapresentar novelas
antigas de sucesso, como O Profeta e A Viagem. Extinção da teledramaturgia da Tupi Muitos funcionários da Tupi passavam
necessidades e, para amenizar a situação, foi criado um fundo de greve,
que arrecadou 250 mil cruzeiros em seus primeiros dias. Foram realizados
shows especiais, com nomes como Dominguinhos, Papa Poluição, Circo
Humano e Terra Sol para levantar recursos. Conhecidos autores também
promoveram vendas especiais de seus livros, com noites de autógrafos. No dia 12 de fevereiro, sem qualquer
condição de continuidade, a emissora demitiu todo seu elenco de
teledramaturgia, incluindo aí os integrantes de Drácula, Como Salvar Meu
Casamento e Maria de Nazaré, além dos integrantes do programa
vespertino Mulheres. Por incrível que possa parecer, dada a
precária situação da Tupi, Drácula foi elogiada por sua qualidade. A
crítica Helena Silveira destacou, dia 1º de fevereiro de 1980, também na
Folha, que “em dois capítulos já se criou um clima, uma atmosfera.
Muito cedo para dizer se o vampiro não irá degringolar pelos abismos do
ridículo. Mas o fato é que alguns dos personagens mais importantes já
tiveram seu selo, sua marca registrada. (...) Enfim, a Tupi não está com
uma pedra no meio do caminho. Está com uma montanha. É melancólico
ver-se uma novela com certo carisma estrear cercada por insegurança. Em
todo o caso, o próprio enredo não poderá deixar de ser sinistro”. Drácula renasce na Bandeirantes No dia 6 de julho, a Band, na época
ainda chamada de TV Bandeirantes, anunciou que produziria uma nova
versão de Drácula, que seria chamada de Um Homem Muito Especial. O
elenco seria praticamente o mesmo, bem como a direção, a cargo de Atílio
Riccó, e a supervisão de Walter Avancini. Enquanto isso, a Tupi
agonizava. Sairia do ar alguns dias depois. Uma grande festa foi realizada na
badalada boate Gallery, em São Paulo, para lançar Um Homem Muito
Especial. A trama estreou no dia 21 de julho de 1980 e seguiu, sem as
grandes complicações da breve versão anterior, até 7 de fevereiro de
1981. Um fato curioso é que Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli
deixaram a Bandeirantes pouco antes do final da trama e seguiram para a
Globo, sem finalizar suas participações. No portal Teledramaturgia, Nilson Xavier
disse que, na Band, a novela ganhou menos cenários, mais nudez e
violência e ainda mais atores. “Com o processo de criação dos mais
impecáveis, Um Homem Muito Especial só não teve repercussão por ter
passado por diversas fases desestimulantes. Consuelo de Castro
terminaria de escrever a novela, que também teve capítulos escritos por
Jaime Camargo, e transformou-a num bangue bangue à brasileira”,
comentou. Um fim melancólico para uma novela que começou em ambiente não menos conturbado.
FONTE: Por Thell de Castro Ilustração:Enrique Elson Lee
Notícia do jornal
semanário santista Boqueirão News, publicada na edição de 18 a 24 de setembro de 2010, páginas 1 e 7:
PIONEIRISMO
EM SANTOS - A televisão brasileira completa neste sábado (18) 60 nos da
primeira
transmissão realizada pela TV Tupi, em São Paulo. Utilizando
três câmeras, o diretor Cassiano Gabus Mendes colocou ao ar o programa TV na Taba,
com apresentação de Homero Silva e participação de artistas
como Mazzaropi, Walter Forster, Lia de Aguiar e Lolita Rodrigues. A
Cidade faz parte
desta trajetória: foi na Vila Belmiro, em um jogo entre
Santos e Palmeiras, a primeira transmissão externa direta para o País.
Também foi pelo Porto
de Santos que entraram os primeiros aparelhos televisores e
os equipamentos para a montagem da emissora paulista
Imagem: reprodução parcial da primeira página da edição
Televisão 64 anos de história
A TV Brasileira faz neste sábado (18) aniversário.
Santos integra esta trajetória: foi aqui a primeira transmissão externa
direta para o País.
Também foi pelo Porto de Santos que entraram os primeiros
televisores e equipamentos
Da Redação
Em 18 de
setembro, mas de 1950, os santistas e demais brasileiros se ajeitavam
nas poucas salas
que possuíam aparelhos televisores para assistir à primeira
transmissão pela TV Tupi. Exatamente às 21h40, utilizando três câmeras, o
diretor
Cassiano Gabus Mendes colocou ao ar o programa TV na Taba, com apresentação de Homero Silva e participação de artistas como Mazzaropi, Walter
Forster, Lia de Aguiar e Lolita Rodrigues, que cantou o hino da televisão.
Tudo era ao vivo, uma vez que não havia videotape e,
portanto, ainda não existia a possibilidade da gravação. O responsável
foi Assis Chateaubriand,
o Chatô, como era conhecido na época. Empresário e jornalista, Chatô trouxe ao Brasil os primeiros aparelhos de TV e todos os
equipamentos necessários para implantar a emissora no País. Equipamentos importados que chegaram quase sempre pelo
Porto de Santos e seguiam a caminho de São Paulo.
Os primeiros anos da televisão foram um grande laboratório.
Com influência do rádio e do teatro, a TV tomava forma. Tudo era a base
do improviso. Em
19 de setembro foi ao ar o primeiro telejornal, Imagens do Dia, sem horário fixo, geralmente indo ao ar às 21h30 ou 22 horas. No mesmo ano
também surgia o primeiro teleteatro: A Vida por um Fio, história baseada no norte-americano Sorry, Wrong Number, que conta um drama
policial com Lima Duarte, Lia de Aguiar, Walter Forster, Dionísio Azevedo e Yara Lins.
Cinco anos mais tarde da primeira transmissão, porém na
mesma data, Santos entraria para a história da TV Brasileira. Foi aqui,
na Vila Belmiro, em
um jogo entre Santos e Palmeiras, que foi realizada a
primeira transmissão externa direta. A Cidade também foi pioneira, em
1957, na criação da
televisão regional.
Com torre de transmissão/retransmissão instalada na Ilha
Porchat, em São Vicente, a Cidade inaugurou com a TV Santos o modelo que
é seguido até hoje
pelas emissoras de televisão regional, porém o projeto não
durou muito. Mesmo com sinais precários da pioneira TV Tupi de São Paulo
e das demais
emissoras paulistanas que se seguiram (TV Paulista, canal 5,
e TV Record, canal 7), existem dados que demonstram que Santos já
possuía, em 1956, 4
mil aparelhos de televisão.
Global x regional - "A TV Regional começou a
funcionar mesmo, do jeito que é até hoje, por volta da década de 80, com
o objetivo de aproximar
a população local de diferentes regiões para o que estava
sendo exibido pela TV. O morador das cidades precisam se ver. A idéia
era refletir valores
culturais de diferentes localidades e sair do eixo Rio-São
Paulo", explica o jornalista e professor universitário, Marcus Vinicius
Batista.
Atualmente, a Baixada Santista conta com sete emissoras
regionais em canal aberto, sendo quatro comerciais (TV Tribuna, TV
Record, VTV e TVB) e três
educativas (TV Santa Cecília - que assumiu a antiga TV
Litoral. TV Universidade Católica de Santos - afiliada à TV Cultura de
São Paulo, além da TV
Ilha do Sol, ligada à Unaerp, em Guarujá, afiliada ao canal
Futura.
Para Batista, o que falta na TV regional é a experimentação.
"Precisamos inovar, utilizando linguagens e formatos novos. Um dos
motivos que isto não
acontece é a padronização imposta pelas grandes redes, o que
engessa a programação local", explica. O jornalista acredita que falta
também programas
políticos para discutir questões de interesse das nove
cidades da Baixada Santista.
"Neste ponto, a TV ainda está atrasada. O jornal impresso
está sempre à frente com as notícias, salvo em raras exceções",
ressalta. Já em relação às
educativas, de acordo com Batista, falta espaço para mais
programas que valorizem a região e também produções dos próprios alunos.
Já
o jornalista Eduardo Silva, diretor da TV Tribuna,
filiada à rede Globo, acredita que a qualidade dos programas
regionais está se superando a cada ano, valorizando a cultura local.
"Produzimos hoje,
além do jornalismo, quatro programas de destaque: Rota do Sol, que mostra a região como nunca antes, Viver Bem, Corpo e Ação
e
o especial de curta metragens, que este ano completa quatro
anos, apresentando os filmes que participam do Festival de Curta
Metragens - Curta
Santos", ressalta.
A TV Tribuna emprega hoje 150 funcionários, sendo que 60
entre jornalistas e radialistas. Para ele, as televisões regionais
funcionam também como o
principal impulso para que os jornalistas que atuam na
Cidade entrem nas grandes emissoras, "como é o caso de muitos dos
profissionais que passaram
pela TV Tribuna".
AO VIVO - Sem a possibilidade do uso de videotape, as primeiras transmissões eram realizadas ao
vivo
Foto: arquivo pessoal de Albertino Aor
Cunha, publicada com a matéria
Lembranças de quem atuou na Tupi
Vivendo em Santos, o jornalista e técnico Albertino Aor
Cunha, hoje com 80 anos, trabalhou de 1974 a 1982 na antiga TV Tupi.
Começou na área de
iluminação, em seguida se tornou coordenador da iluminação e
não demorou para atuar como supervisor de qualidade técnica. "Era chefe
de operações,
sendo responsável por 300 homens. Não podia deixar passar
nenhum erro, seja de iluminação, som, cor ou a seqüência das cenas. Tudo
tinha que estar
em perfeita ordem e sintonia", relembra.
Albertino participou da produção de 13 novelas, além de shows,
partidas de futebol e programas de jornalismo. Com boas lembranças, dá
risada
de tudo que viveu junto com a equipe técnica e os atores.
"Quando entrei na Tupi já éramos em 1.200 funcionários em São Paulo, com
três estúdios, um
palco para show e dois estúdios para jornal, além de toda estrutura para redação e outros espaços técnicos", diz.
Na primeira transmissão, Albertino ainda não estava
trabalhando na emissora. "Lembro de ter assistido, mas não achei graça.
Gostava muito mais do
rádio, com suas novelas e glamour, mas me lembro da
minha primeira televisão, portátil, verde. Foi uma festa quando a levei
para casa",
conta. Mal sabia que trabalharia na área. "Na época, já
fazia cinema. Como era muito difícil viver destas produções acabei indo
para o Paraguai
trabalhar na Televisión Cerro Cora, onde fiquei por nove
anos. Quando voltei, pensei em voltar para o cinema, mas o que tinha na
época era apenas
porno-chanchada. Não me interessei muito e acabei indo para a
TV Tupi, encantado principalmente pela cor que começava na época",
ressalta.
Albertino não estava no dia da inauguração. Entrou anos
depois, porém estava presente no dia do fechamento da emissora. Como
chefe de operações da
TV Tupi, foi ele quem deu a ordem para que desligassem todos
os aparelhos. "18 de julho de 1980. Mais ou menos ao meio-dia, dois
engenheiros
associados entraram na técnica, onde estava o responsável
Albertino. E disseram: desligue a emissora. Tire o Cristal. Albertino
deu a ordem ao seu
funcionário imediato: Desligue. Esse não obedeceu. Tremeu.
Assustou-se. Chorou. Aí os engenheiros disseram: é uma ordem. Pode
desligar. E o cristal
foi retirado. A TV Tupi saiu do ar", assim descreve a atriz
Vida Alves no livro TV Tupi, uma Linda História de Amor. Atriz
que fez história
na televisão, foi ela quem escandalizou a sociedade ao dar o
primeiro beijo. Atualmente, Vida apresenta um programa para a Melhor
Idade, na TV Santa
Cecília, aos sábados, às 9 horas.
Para Albertino, o que mais deixa saudade é a convivência. "A
Tupi era como uma casa de amigos. Todo mundo era irmão. As equipes se
protegiam. O mais
legal, por fim, era ver o que estávamos fazendo sendo
transmitido para todo o Brasil", relembra Albertino, que continuou sua
trajetória na TV.
"O que mudou na televisão em 60? A tecnologia. Não é de ano
em ano, nem de mês em mês, mas as novidades tecnológicas aparecem a cada
segundo,
modificando a qualidade técnica de fazer televisão. Porém, o
conteúdo continua o mesmo, assim como a linguagem. As mudanças de
conteúdo e linguagem
são reflexo da própria sociedade, afinal de contas programas
de TV, como as novelas – que tanto fazem sucesso – são uma cópia da
vida real. Se hoje
é possível ouvir tanto palavrão na TV é porque os padrões da
sociedade se modificaram", destaca.UNIFORME - Albertino Aor relembra de quando trabalhou na TV Tupi. Na foto, o jornalista veste o
colete com o qual trabalhava na emissora
Foto: Nara Assunção, publicada com a
matéria
Tema de TCC - Em 2009, duas alunas do curso de
Jornalismo da Universidade Santa Cecília, Diana Lima e Camila Natalo,
realizaram o trabalho de
conclusão de curso (TCC) TV Tupi - 60 anos. "Foram seis meses de pesquisa e entrevistas. Nosso objetivo era fazer um panorama dos 60 anos de
história, com foco na TV Tupi, pioneira no País", explica Diana, que cresceu assistindo televisão.
No TCC, as universitárias, hoje já formadas, entrevistaram
importantes personagens da época da TV Tupi, como Vida Alves, uma das
mais importantes
atrizes brasileiras. Lima Duarte também foi um de seus
personagens.
As primeiras transmissões eram realizadas ao vivo
Foto: arquivo pessoal de Albertino Aor
Cunha, publicada com a matéria
A TV nasceu elitista
Em entrevista por e-mail, Sérgio Mattos fala sobre a importância da Tupi e analisa o papel e a influência da TV como meio de
comunicação social
Da Redação, por Diana Lima e Camila Natalo
Algumas
das obras fundamentais para compreender com mais clareza o que é a
televisão brasileira
são de autoria de Sérgio Mattos, pesquisador, cronista,
compositor e poeta. Ele tem em seu currículo 25 livros já publicados no
Brasil e no
exterior. Dentre eles, História da Televisão Brasileira: Uma visão econômica, social e política; A Televisão no Brasil: 50 anos de
história (1950-2000) e Um perfil da TV brasileira: 40 anos de história 1950-1990.
Professor da Universidade Federal da Bahia e da Unidade
Baiana de Ensino, Pesquisa e Extensão, jornalista, mestre e doutor em
Comunicação pela
Universidade do Texas (Austin, Estados Unidos), vencedor do
Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação, Sérgio Mattos é
fascinado pela televisão
brasileira. Na entrevista a seguir, ele discorre sobre a
inserção da TV no País, sobre a importância da emissora pioneira e
levanta questões acerca
dos estudos relacionados ao meio.
Além de ser a primeira emissora no Brasil, qual a importância da TV Tupi influência na cultura popular? Sérgio Mattos — A sua importância está,
principalmente, no fato de ter sido a primeira emissora brasileira de
TV. Historicamente, ela
desbravou o setor, usou o jeitinho brasileiro para corrigir o
desconhecimento técnico, improvisou quando não se tinha os recursos
técnicos para
manter a TV no ar.
Hoje em dia a televisão tem forte influência na cultura popular. Quando começou essa ligação entre a TV e o povo?
Sérgio Mattos — No início, a TV foi extremamente
elitista e só começou a se tornar popular em sua segunda fase de
desenvolvimento, com os
programas de auditório. Na década de 1970, a televisão já
havia se estabelecido no país como o mais ativo e importante veículo da
indústria
cultural. Quando os estudiosos começaram a se interessar realmente pela televisão?
Sérgio Mattos — Apesar de a televisão ter começado a
operar no Brasil em setembro de 1950, o veículo só passou a ser objeto
de estudo a partir
da década de 1960, quando os primeiros trabalhos, analisando
o conteúdo de sua programação e seus efeitos sociais, começaram a ser
produzidos.
Examinando
o material bibliográfico sobre a televisão brasileira pode-se
constatar que a maioria dos trabalhos produzidos no Brasil
apresenta análises e descrições sobre como este veículo se desenvolveu,
influenciou ou
foi utilizado pelas classes dominantes. Constata-se ainda a
escassez de autores que se dediquem ao estudo de aspectos ainda não
examinados ou que já
o foram, mas de maneira superficial ou dirigida. A história
da TV no Brasil permanece com várias lacunas a serem resgatadas e
explicadas. A TV
precisa ser analisada como parte de um processo de mudanças e
permanências das estruturas econômicas, políticas e sociais do país e
não como parte
isolada. A televisão precisa ser mais estudada a partir de
uma abordagem socioeconômica, política e cultural que considere também o
meio de
comunicação como um agente que intervém e, ao mesmo tempo,
reflete o ambiente no qual está inserido.
A televisão passou por diversas transformações. De que forma elas ocorreram e quais foram as mais importantes?
Sérgio Mattos — A televisão brasileira nasceu elitista. Em meu livro História da Televisão Brasileira: uma visão econômica, social e política
apresento a evolução da TV em fases. A primeira delas, "A
Fase Elitista", se estende de 1950 a 1964, quando o televisor era
considerado um luxo ao
qual apenas a elite econômica tinha acesso. Em 1964, surge a
segunda, "a fase populista", no período de 1964 a 1975, quando a
televisão era
considerada um exemplo de modernidade e programas de
auditório e de baixo nível tomavam grande parte da programação. A
terceira fase, "A Fase do
Desenvolvimento Tecnológico", começa em 1975 e termina em
1985. Durante a terceira fase, as redes de TV se aperfeiçoaram e
começaram a produzir, com
maior intensidade e profissionalismo, os seus próprios
programas com estímulo de órgãos oficiais, visando, inclusive, a
exportação. A quarta fase,
da "Transição e da Expansão Internacional", compreende o
período de 1985 a 1990, quando se intensificam as exportações de
programas. A quinta fase,
da "Globalização e da TV Paga", compreende o período de 1990
a 2000, quando o país busca a modernidade a qualquer custo e a
televisão se adapta aos
novos rumos da redemocratização. A sexta é "A Fase da
Convergência e da Qualidade Digital", iniciada em 2000 e que se estende
aos dias de hoje, com
a tecnologia apontando para uma interatividade cada vez
maior dos veículos de comunicação, principalmente a televisão, com a
Internet e outras
tecnologias da informação.
Em que contexto social e econômico a TV surgiu no Brasil?
Sérgio Mattos — A televisão representava o maior símbolo
da modernização da época e as elites brasileiras aspiravam por ela. No
Brasil, coincide
com o começo de um importante período de mudanças na
estrutura econômica, social e política. A TV surgiu dentro da estrutura
de nacionalismo
econômico, quando o governo Getúlio Vargas
(1930—1945) começou a investir diretamente na expansão da indústria
pesada, prática que se fortaleceu durante a Segunda Grande
Guerra, transformando-se na principal política de seu segundo governo,
de 1950 a 1954, ou
seja, durante os quatro primeiros anos da televisão
brasileira. Assim, o advento da televisão, em 1950, ocorreu durante o
período de crescimento
industrial. Com a intensificação da industrialização nos
anos 1950, aumentou a migração das áreas rurais para as urbanas e o
rádio transformou-se na
mais importante fonte de informação da população.
Quando começou a popularidade da TV?
Sérgio Mattos — No período de 1964 a 1985, quando a
televisão foi usada como uma poderosa ferramenta política, tanto de
mobilização social como
de formação de opinião pública.
Por que é tão difícil encontrarmos estudos mais profundos sobre a televisão no Brasil?
Sérgio Mattos— Da mesma forma que a política
socioeconômica brasileira se desenvolveu dentro de uma mesma matriz, mas
sempre oscilando de
acordo com as tendências mundiais e ideológicas vigentes, o
desenvolvimento da televisão brasileira também sofreu a influência
direta e indireta das
mudanças do contexto. Contexto que apresenta não uma, mas
várias realidades, tão díspares que podem levar alguns estudiosos a
evitar, inclusive, de
assumir uma periodização para estudar a televisão. Isso se
deve à anomalia que é a nossa história contemporânea, que torna quase
impossível a tarefa
de estabelecer uma periodização de acordo com os rigores da
historiografia, sob pena de apresentar distorções. Assim sendo, ao
concentrar a atenção
apenas em certos aspectos como, por exemplo, econômicos,
performances técnicas e condições de produção, corre-se o risco de
desconsiderar outras
peculiaridades históricas que participam diretamente do
processo. É preciso considerar que a política do país sempre oscilou de
acordo com as
tendências mundiais e ideológicas vigentes.
A construção, uma
das mais charmosas e emblemáticas da cidade, debruçado sobre a Praia da
Urca e a Enseada de Botafogo, está abrigando o Instituto Europeu de
Design (IED), uma tradicional escola italiana, inaugurada nesta
terça-feira. A escola oferece programas de pós-graduação e
extensão, a partir do ano que vem vai ter cursos de graduação. A
unidade, a segunda no Brasil — outra fica em São Paulo —, é uma aposta
que tem tudo para dar certo, conforme diz um dos diretores do IED, o
italiano Alessandro Maneti. Segundo ele, o Rio de Janeiro é um
laboratório natural para os cursos oferecidos pela escola e servirá como
inspiração para colocar em prática os projetos da escola, como a
economia criativa: “A Copa e as Olimpíadas estão fazendo mais pessoas se
interessarem pelo Rio”.
O prédio que abrigou o antigo Cassino da Urca e a TV Tupi volta a ser ocupado depois de 30 anos
Foto: Cacau Fernandes / Agência O Dia
Ele contou que a escolha do prédio
seguiu uma tendência da escola, que sempre se instala em locais que têm
uma relação com a história da cidade que o sediará — há outras sedes na
Itália, Espanha e China. Os diretores garantiram que a linha de ensino é
a mesma em todos as unidades pelo mundo. O aluno pode começar a
graduação em uma unidade e terminar em outra.
Devido a um convênio com a prefeitura, o IED
terá que oferecer 10% de suas vagas para bolsistas. O acordo prevê que
os beneficiados sejam funcionários municipais e pessoas de baixa renda.
Os candidatos terão que passar por processos de seleção, que ainda estão
sendo definidos. O prédio do Cassino da Urca foi construído para
servir de hotel na Exposição Internacional de 1922, comemorativa do
Centenário da Independência do Brasil. Ganhou fama quando transformado
em cassino em 1933 — fechado em 1946. Na década de 1950, o prédio voltou
a ser ocupado. Dessa vez pela extinta TV Tupi, que ficou ali os anos
1980. Justiça garantiu início de atividades
A criação da escola sofreu resistência da
Associação de Moradores da Urca, que temiam que a criação de uma unidade
de ensino na região tirasse a tranquilidade no bairro. O caso foi parar
na Justiça. O prédio é propriedade da Prefeitura do Rio, que firmou
acordo com o Instituto Europeu de Design e o cedeu pelo prazo de 50
anos. A escola é responsável por manter as fachadas — já que o local é
tombado — e também por manter seu interior reformado.
Alguns dos moradores do bairro foram contra a
instalação da escola por acreditarem que os carros dos estudantes
bloqueariam as ruas da Urca. Para tentar resolver essa situação, o IED
prometeu estimular que seus alunos se deslocassem de transporte público
ou bicicleta. Não houve acordo e um processo começou a tramitar na
Justiça em 2009, que proibiu que a escola funcionasse.
No final de 2012, desembargadores da 11ª Vara
Cível do Tribunal de Justiça do Rio cassaram a liminar e autorizaram que
o instituto italiano iniciasse suas atividades.