Drácula percorreu, em 1980, um caminho incomum: começou a ser exibida por uma emissora e terminou em outra. Era estrelada por Rubens de Falco, que se apaixonava pela mulher (Bruna Lombardi) do filho (Carlos Alberto Riccelli). Teve poucos capítulos na Tupi. Foi retomada meses depois na Band.
Quando a greve se intensificou, a novela tinha apenas cinco capítulos gravados, dois deles sonorizados. A emissora passou a reprisar os poucos capítulos já exibidos, dizendo ser um pedido do público, mas não passava de uma desculpa para burlar a crise. A novela Como Salvar Meu Casamento teve o mesmo problema e também saiu do ar.
O derradeiro capítulo de Drácula foi apresentado em 6 de fevereiro. A partir do dia 11 daquele mês, começou nova reprise. Em seguida, a emissora passou a reapresentar novelas antigas de sucesso, como O Profeta e A Viagem.
Extinção da teledramaturgia da Tupi
Muitos funcionários da Tupi passavam necessidades e, para amenizar a situação, foi criado um fundo de greve, que arrecadou 250 mil cruzeiros em seus primeiros dias. Foram realizados shows especiais, com nomes como Dominguinhos, Papa Poluição, Circo Humano e Terra Sol para levantar recursos. Conhecidos autores também promoveram vendas especiais de seus livros, com noites de autógrafos.
No dia 12 de fevereiro, sem qualquer condição de continuidade, a emissora demitiu todo seu elenco de teledramaturgia, incluindo aí os integrantes de Drácula, Como Salvar Meu Casamento e Maria de Nazaré, além dos integrantes do programa vespertino Mulheres.
Por incrível que possa parecer, dada a precária situação da Tupi, Drácula foi elogiada por sua qualidade. A crítica Helena Silveira destacou, dia 1º de fevereiro de 1980, também na Folha, que “em dois capítulos já se criou um clima, uma atmosfera. Muito cedo para dizer se o vampiro não irá degringolar pelos abismos do ridículo. Mas o fato é que alguns dos personagens mais importantes já tiveram seu selo, sua marca registrada. (...) Enfim, a Tupi não está com uma pedra no meio do caminho. Está com uma montanha. É melancólico ver-se uma novela com certo carisma estrear cercada por insegurança. Em todo o caso, o próprio enredo não poderá deixar de ser sinistro”.
Drácula renasce na Bandeirantes
No dia 6 de julho, a Band, na época ainda chamada de TV Bandeirantes, anunciou que produziria uma nova versão de Drácula, que seria chamada de Um Homem Muito Especial. O elenco seria praticamente o mesmo, bem como a direção, a cargo de Atílio Riccó, e a supervisão de Walter Avancini. Enquanto isso, a Tupi agonizava. Sairia do ar alguns dias depois.
Uma grande festa foi realizada na badalada boate Gallery, em São Paulo, para lançar Um Homem Muito Especial. A trama estreou no dia 21 de julho de 1980 e seguiu, sem as grandes complicações da breve versão anterior, até 7 de fevereiro de 1981. Um fato curioso é que Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli deixaram a Bandeirantes pouco antes do final da trama e seguiram para a Globo, sem finalizar suas participações.
No portal Teledramaturgia, Nilson Xavier disse que, na Band, a novela ganhou menos cenários, mais nudez e violência e ainda mais atores. “Com o processo de criação dos mais impecáveis, Um Homem Muito Especial só não teve repercussão por ter passado por diversas fases desestimulantes. Consuelo de Castro terminaria de escrever a novela, que também teve capítulos escritos por Jaime Camargo, e transformou-a num bangue bangue à brasileira”, comentou.
Um fim melancólico para uma novela que começou em ambiente não menos conturbado.
FONTE:
Por Thell de Castro
Ilustração:Enrique Elson Lee
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