Notícia do jornal
semanário santista Boqueirão News, publicada na edição de 18 a 24 de setembro de 2010, páginas 1 e 7:
PIONEIRISMO EM SANTOS - A televisão brasileira completa neste sábado (18) 60 nos da primeira transmissão realizada pela TV Tupi, em São Paulo. Utilizando três câmeras, o diretor Cassiano Gabus Mendes colocou ao ar o programa TV na Taba, com apresentação de Homero Silva e participação de artistas como Mazzaropi, Walter Forster, Lia de Aguiar e Lolita Rodrigues. A Cidade faz parte desta trajetória: foi na Vila Belmiro, em um jogo entre Santos e Palmeiras, a primeira transmissão externa direta para o País. Também foi pelo Porto de Santos que entraram os primeiros aparelhos televisores e os equipamentos para a montagem da emissora paulista
Imagem: reprodução parcial da primeira página da edição
64 anos de história
A TV Brasileira faz neste sábado (18) aniversário. Santos integra esta trajetória: foi aqui a primeira transmissão externa direta para o País. Também foi pelo Porto de Santos que entraram os primeiros televisores e equipamentos
Da Redação
Em 18 de
setembro, mas de 1950, os santistas e demais brasileiros se ajeitavam
nas poucas salas
que possuíam aparelhos televisores para assistir à primeira
transmissão pela TV Tupi. Exatamente às 21h40, utilizando três câmeras, o
diretor
Cassiano Gabus Mendes colocou ao ar o programa TV na Taba, com apresentação de Homero Silva e participação de artistas como Mazzaropi, Walter
Forster, Lia de Aguiar e Lolita Rodrigues, que cantou o hino da televisão.Tudo era ao vivo, uma vez que não havia videotape e, portanto, ainda não existia a possibilidade da gravação. O responsável foi Assis Chateaubriand, o Chatô, como era conhecido na época. Empresário e jornalista, Chatô trouxe ao Brasil os primeiros aparelhos de TV e todos os equipamentos necessários para implantar a emissora no País. Equipamentos importados que chegaram quase sempre pelo Porto de Santos e seguiam a caminho de São Paulo.
Os primeiros anos da televisão foram um grande laboratório. Com influência do rádio e do teatro, a TV tomava forma. Tudo era a base do improviso. Em 19 de setembro foi ao ar o primeiro telejornal, Imagens do Dia, sem horário fixo, geralmente indo ao ar às 21h30 ou 22 horas. No mesmo ano também surgia o primeiro teleteatro: A Vida por um Fio, história baseada no norte-americano Sorry, Wrong Number, que conta um drama policial com Lima Duarte, Lia de Aguiar, Walter Forster, Dionísio Azevedo e Yara Lins.
Cinco anos mais tarde da primeira transmissão, porém na mesma data, Santos entraria para a história da TV Brasileira. Foi aqui, na Vila Belmiro, em um jogo entre Santos e Palmeiras, que foi realizada a primeira transmissão externa direta. A Cidade também foi pioneira, em 1957, na criação da televisão regional.
Com torre de transmissão/retransmissão instalada na Ilha Porchat, em São Vicente, a Cidade inaugurou com a TV Santos o modelo que é seguido até hoje pelas emissoras de televisão regional, porém o projeto não durou muito. Mesmo com sinais precários da pioneira TV Tupi de São Paulo e das demais emissoras paulistanas que se seguiram (TV Paulista, canal 5, e TV Record, canal 7), existem dados que demonstram que Santos já possuía, em 1956, 4 mil aparelhos de televisão.
Global x regional - "A TV Regional começou a funcionar mesmo, do jeito que é até hoje, por volta da década de 80, com o objetivo de aproximar a população local de diferentes regiões para o que estava sendo exibido pela TV. O morador das cidades precisam se ver. A idéia era refletir valores culturais de diferentes localidades e sair do eixo Rio-São Paulo", explica o jornalista e professor universitário, Marcus Vinicius Batista.
Atualmente, a Baixada Santista conta com sete emissoras regionais em canal aberto, sendo quatro comerciais (TV Tribuna, TV Record, VTV e TVB) e três educativas (TV Santa Cecília - que assumiu a antiga TV Litoral. TV Universidade Católica de Santos - afiliada à TV Cultura de São Paulo, além da TV Ilha do Sol, ligada à Unaerp, em Guarujá, afiliada ao canal Futura.
Para Batista, o que falta na TV regional é a experimentação. "Precisamos inovar, utilizando linguagens e formatos novos. Um dos motivos que isto não acontece é a padronização imposta pelas grandes redes, o que engessa a programação local", explica. O jornalista acredita que falta também programas políticos para discutir questões de interesse das nove cidades da Baixada Santista.
"Neste ponto, a TV ainda está atrasada. O jornal impresso está sempre à frente com as notícias, salvo em raras exceções", ressalta. Já em relação às educativas, de acordo com Batista, falta espaço para mais programas que valorizem a região e também produções dos próprios alunos.
Já
o jornalista Eduardo Silva, diretor da TV Tribuna,
filiada à rede Globo, acredita que a qualidade dos programas
regionais está se superando a cada ano, valorizando a cultura local.
"Produzimos hoje,
além do jornalismo, quatro programas de destaque: Rota do Sol, que mostra a região como nunca antes, Viver Bem, Corpo e Ação
e
o especial de curta metragens, que este ano completa quatro
anos, apresentando os filmes que participam do Festival de Curta
Metragens - Curta
Santos", ressalta.
A TV Tribuna emprega hoje 150 funcionários, sendo que 60 entre jornalistas e radialistas. Para ele, as televisões regionais funcionam também como o principal impulso para que os jornalistas que atuam na Cidade entrem nas grandes emissoras, "como é o caso de muitos dos profissionais que passaram pela TV Tribuna".
A TV Tribuna emprega hoje 150 funcionários, sendo que 60 entre jornalistas e radialistas. Para ele, as televisões regionais funcionam também como o principal impulso para que os jornalistas que atuam na Cidade entrem nas grandes emissoras, "como é o caso de muitos dos profissionais que passaram pela TV Tribuna".
AO VIVO - Sem a possibilidade do uso de videotape, as primeiras transmissões eram realizadas ao vivo
Foto: arquivo pessoal de Albertino Aor
Cunha, publicada com a matéria
Lembranças de quem atuou na TupiVivendo em Santos, o jornalista e técnico Albertino Aor Cunha, hoje com 80 anos, trabalhou de 1974 a 1982 na antiga TV Tupi. Começou na área de iluminação, em seguida se tornou coordenador da iluminação e não demorou para atuar como supervisor de qualidade técnica. "Era chefe de operações, sendo responsável por 300 homens. Não podia deixar passar nenhum erro, seja de iluminação, som, cor ou a seqüência das cenas. Tudo tinha que estar em perfeita ordem e sintonia", relembra.
Albertino participou da produção de 13 novelas, além de shows, partidas de futebol e programas de jornalismo. Com boas lembranças, dá risada de tudo que viveu junto com a equipe técnica e os atores. "Quando entrei na Tupi já éramos em 1.200 funcionários em São Paulo, com três estúdios, um palco para show e dois estúdios para jornal, além de toda estrutura para redação e outros espaços técnicos", diz.
Na primeira transmissão, Albertino ainda não estava trabalhando na emissora. "Lembro de ter assistido, mas não achei graça. Gostava muito mais do rádio, com suas novelas e glamour, mas me lembro da minha primeira televisão, portátil, verde. Foi uma festa quando a levei para casa", conta. Mal sabia que trabalharia na área. "Na época, já fazia cinema. Como era muito difícil viver destas produções acabei indo para o Paraguai trabalhar na Televisión Cerro Cora, onde fiquei por nove anos. Quando voltei, pensei em voltar para o cinema, mas o que tinha na época era apenas porno-chanchada. Não me interessei muito e acabei indo para a TV Tupi, encantado principalmente pela cor que começava na época", ressalta.
Albertino não estava no dia da inauguração. Entrou anos depois, porém estava presente no dia do fechamento da emissora. Como chefe de operações da TV Tupi, foi ele quem deu a ordem para que desligassem todos os aparelhos. "18 de julho de 1980. Mais ou menos ao meio-dia, dois engenheiros associados entraram na técnica, onde estava o responsável Albertino. E disseram: desligue a emissora. Tire o Cristal. Albertino deu a ordem ao seu funcionário imediato: Desligue. Esse não obedeceu. Tremeu. Assustou-se. Chorou. Aí os engenheiros disseram: é uma ordem. Pode desligar. E o cristal foi retirado. A TV Tupi saiu do ar", assim descreve a atriz Vida Alves no livro TV Tupi, uma Linda História de Amor. Atriz que fez história na televisão, foi ela quem escandalizou a sociedade ao dar o primeiro beijo. Atualmente, Vida apresenta um programa para a Melhor Idade, na TV Santa Cecília, aos sábados, às 9 horas.
Para Albertino, o que mais deixa saudade é a convivência. "A Tupi era como uma casa de amigos. Todo mundo era irmão. As equipes se protegiam. O mais legal, por fim, era ver o que estávamos fazendo sendo transmitido para todo o Brasil", relembra Albertino, que continuou sua trajetória na TV.
"O que mudou na televisão em 60? A tecnologia. Não é de ano em ano, nem de mês em mês, mas as novidades tecnológicas aparecem a cada segundo, modificando a qualidade técnica de fazer televisão. Porém, o conteúdo continua o mesmo, assim como a linguagem. As mudanças de conteúdo e linguagem são reflexo da própria sociedade, afinal de contas programas de TV, como as novelas – que tanto fazem sucesso – são uma cópia da vida real. Se hoje é possível ouvir tanto palavrão na TV é porque os padrões da sociedade se modificaram", destaca.UNIFORME - Albertino Aor relembra de quando trabalhou na TV Tupi. Na foto, o jornalista veste o colete com o qual trabalhava na emissora
Foto: Nara Assunção, publicada com a
matéria
Tema de TCC - Em 2009, duas alunas do curso de Jornalismo da Universidade Santa Cecília, Diana Lima e Camila Natalo, realizaram o trabalho de conclusão de curso (TCC) TV Tupi - 60 anos. "Foram seis meses de pesquisa e entrevistas. Nosso objetivo era fazer um panorama dos 60 anos de história, com foco na TV Tupi, pioneira no País", explica Diana, que cresceu assistindo televisão.
No TCC, as universitárias, hoje já formadas, entrevistaram importantes personagens da época da TV Tupi, como Vida Alves, uma das mais importantes atrizes brasileiras. Lima Duarte também foi um de seus personagens.
As primeiras transmissões eram realizadas ao vivo
Foto: arquivo pessoal de Albertino Aor
Cunha, publicada com a matéria
A TV nasceu elitista
Em entrevista por e-mail, Sérgio Mattos fala sobre a importância da Tupi e analisa o papel e a influência da TV como meio de comunicação social
Em entrevista por e-mail, Sérgio Mattos fala sobre a importância da Tupi e analisa o papel e a influência da TV como meio de comunicação social
Da Redação, por Diana Lima e Camila Natalo
Algumas
das obras fundamentais para compreender com mais clareza o que é a
televisão brasileira
são de autoria de Sérgio Mattos, pesquisador, cronista,
compositor e poeta. Ele tem em seu currículo 25 livros já publicados no
Brasil e no
exterior. Dentre eles, História da Televisão Brasileira: Uma visão econômica, social e política; A Televisão no Brasil: 50 anos de
história (1950-2000) e Um perfil da TV brasileira: 40 anos de história 1950-1990.Professor da Universidade Federal da Bahia e da Unidade Baiana de Ensino, Pesquisa e Extensão, jornalista, mestre e doutor em Comunicação pela Universidade do Texas (Austin, Estados Unidos), vencedor do Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação, Sérgio Mattos é fascinado pela televisão brasileira. Na entrevista a seguir, ele discorre sobre a inserção da TV no País, sobre a importância da emissora pioneira e levanta questões acerca dos estudos relacionados ao meio.
Além de ser a primeira emissora no Brasil, qual a importância da TV Tupi influência na cultura popular?
Sérgio Mattos — A sua importância está, principalmente, no fato de ter sido a primeira emissora brasileira de TV. Historicamente, ela desbravou o setor, usou o jeitinho brasileiro para corrigir o desconhecimento técnico, improvisou quando não se tinha os recursos técnicos para manter a TV no ar.
Hoje em dia a televisão tem forte influência na cultura popular. Quando começou essa ligação entre a TV e o povo?
Sérgio Mattos — No início, a TV foi extremamente elitista e só começou a se tornar popular em sua segunda fase de desenvolvimento, com os programas de auditório. Na década de 1970, a televisão já havia se estabelecido no país como o mais ativo e importante veículo da indústria cultural.
Quando os estudiosos começaram a se interessar realmente pela televisão?
Sérgio Mattos — Apesar de a televisão ter começado a operar no Brasil em setembro de 1950, o veículo só passou a ser objeto de estudo a partir da década de 1960, quando os primeiros trabalhos, analisando o conteúdo de sua programação e seus efeitos sociais, começaram a ser produzidos.
Examinando
o material bibliográfico sobre a televisão brasileira pode-se
constatar que a maioria dos trabalhos produzidos no Brasil
apresenta análises e descrições sobre como este veículo se desenvolveu,
influenciou ou
foi utilizado pelas classes dominantes. Constata-se ainda a
escassez de autores que se dediquem ao estudo de aspectos ainda não
examinados ou que já
o foram, mas de maneira superficial ou dirigida. A história
da TV no Brasil permanece com várias lacunas a serem resgatadas e
explicadas. A TV
precisa ser analisada como parte de um processo de mudanças e
permanências das estruturas econômicas, políticas e sociais do país e
não como parte
isolada. A televisão precisa ser mais estudada a partir de
uma abordagem socioeconômica, política e cultural que considere também o
meio de
comunicação como um agente que intervém e, ao mesmo tempo,
reflete o ambiente no qual está inserido.
A televisão passou por diversas transformações. De que forma elas ocorreram e quais foram as mais importantes?
Sérgio Mattos — A televisão brasileira nasceu elitista. Em meu livro História da Televisão Brasileira: uma visão econômica, social e política apresento a evolução da TV em fases. A primeira delas, "A Fase Elitista", se estende de 1950 a 1964, quando o televisor era considerado um luxo ao qual apenas a elite econômica tinha acesso. Em 1964, surge a segunda, "a fase populista", no período de 1964 a 1975, quando a televisão era considerada um exemplo de modernidade e programas de auditório e de baixo nível tomavam grande parte da programação. A terceira fase, "A Fase do Desenvolvimento Tecnológico", começa em 1975 e termina em 1985. Durante a terceira fase, as redes de TV se aperfeiçoaram e começaram a produzir, com maior intensidade e profissionalismo, os seus próprios programas com estímulo de órgãos oficiais, visando, inclusive, a exportação. A quarta fase, da "Transição e da Expansão Internacional", compreende o período de 1985 a 1990, quando se intensificam as exportações de programas. A quinta fase, da "Globalização e da TV Paga", compreende o período de 1990 a 2000, quando o país busca a modernidade a qualquer custo e a televisão se adapta aos novos rumos da redemocratização. A sexta é "A Fase da Convergência e da Qualidade Digital", iniciada em 2000 e que se estende aos dias de hoje, com a tecnologia apontando para uma interatividade cada vez maior dos veículos de comunicação, principalmente a televisão, com a Internet e outras tecnologias da informação.
Em que contexto social e econômico a TV surgiu no Brasil?
Sérgio Mattos — A televisão representava o maior símbolo da modernização da época e as elites brasileiras aspiravam por ela. No Brasil, coincide com o começo de um importante período de mudanças na estrutura econômica, social e política. A TV surgiu dentro da estrutura de nacionalismo econômico, quando o governo Getúlio Vargas (1930—1945) começou a investir diretamente na expansão da indústria pesada, prática que se fortaleceu durante a Segunda Grande Guerra, transformando-se na principal política de seu segundo governo, de 1950 a 1954, ou seja, durante os quatro primeiros anos da televisão brasileira. Assim, o advento da televisão, em 1950, ocorreu durante o período de crescimento industrial. Com a intensificação da industrialização nos anos 1950, aumentou a migração das áreas rurais para as urbanas e o rádio transformou-se na mais importante fonte de informação da população.
Quando começou a popularidade da TV?
Sérgio Mattos — No período de 1964 a 1985, quando a televisão foi usada como uma poderosa ferramenta política, tanto de mobilização social como de formação de opinião pública.
Por que é tão difícil encontrarmos estudos mais profundos sobre a televisão no Brasil?
Sérgio Mattos — Da mesma forma que a política socioeconômica brasileira se desenvolveu dentro de uma mesma matriz, mas sempre oscilando de acordo com as tendências mundiais e ideológicas vigentes, o desenvolvimento da televisão brasileira também sofreu a influência direta e indireta das mudanças do contexto. Contexto que apresenta não uma, mas várias realidades, tão díspares que podem levar alguns estudiosos a evitar, inclusive, de assumir uma periodização para estudar a televisão. Isso se deve à anomalia que é a nossa história contemporânea, que torna quase impossível a tarefa de estabelecer uma periodização de acordo com os rigores da historiografia, sob pena de apresentar distorções. Assim sendo, ao concentrar a atenção apenas em certos aspectos como, por exemplo, econômicos, performances técnicas e condições de produção, corre-se o risco de desconsiderar outras peculiaridades históricas que participam diretamente do processo. É preciso considerar que a política do país sempre oscilou de acordo com as tendências mundiais e ideológicas vigentes.
A televisão passou por diversas transformações. De que forma elas ocorreram e quais foram as mais importantes?
Sérgio Mattos — A televisão brasileira nasceu elitista. Em meu livro História da Televisão Brasileira: uma visão econômica, social e política apresento a evolução da TV em fases. A primeira delas, "A Fase Elitista", se estende de 1950 a 1964, quando o televisor era considerado um luxo ao qual apenas a elite econômica tinha acesso. Em 1964, surge a segunda, "a fase populista", no período de 1964 a 1975, quando a televisão era considerada um exemplo de modernidade e programas de auditório e de baixo nível tomavam grande parte da programação. A terceira fase, "A Fase do Desenvolvimento Tecnológico", começa em 1975 e termina em 1985. Durante a terceira fase, as redes de TV se aperfeiçoaram e começaram a produzir, com maior intensidade e profissionalismo, os seus próprios programas com estímulo de órgãos oficiais, visando, inclusive, a exportação. A quarta fase, da "Transição e da Expansão Internacional", compreende o período de 1985 a 1990, quando se intensificam as exportações de programas. A quinta fase, da "Globalização e da TV Paga", compreende o período de 1990 a 2000, quando o país busca a modernidade a qualquer custo e a televisão se adapta aos novos rumos da redemocratização. A sexta é "A Fase da Convergência e da Qualidade Digital", iniciada em 2000 e que se estende aos dias de hoje, com a tecnologia apontando para uma interatividade cada vez maior dos veículos de comunicação, principalmente a televisão, com a Internet e outras tecnologias da informação.
Em que contexto social e econômico a TV surgiu no Brasil?
Sérgio Mattos — A televisão representava o maior símbolo da modernização da época e as elites brasileiras aspiravam por ela. No Brasil, coincide com o começo de um importante período de mudanças na estrutura econômica, social e política. A TV surgiu dentro da estrutura de nacionalismo econômico, quando o governo Getúlio Vargas (1930—1945) começou a investir diretamente na expansão da indústria pesada, prática que se fortaleceu durante a Segunda Grande Guerra, transformando-se na principal política de seu segundo governo, de 1950 a 1954, ou seja, durante os quatro primeiros anos da televisão brasileira. Assim, o advento da televisão, em 1950, ocorreu durante o período de crescimento industrial. Com a intensificação da industrialização nos anos 1950, aumentou a migração das áreas rurais para as urbanas e o rádio transformou-se na mais importante fonte de informação da população.
Quando começou a popularidade da TV?
Sérgio Mattos — No período de 1964 a 1985, quando a televisão foi usada como uma poderosa ferramenta política, tanto de mobilização social como de formação de opinião pública.
Por que é tão difícil encontrarmos estudos mais profundos sobre a televisão no Brasil?
Sérgio Mattos — Da mesma forma que a política socioeconômica brasileira se desenvolveu dentro de uma mesma matriz, mas sempre oscilando de acordo com as tendências mundiais e ideológicas vigentes, o desenvolvimento da televisão brasileira também sofreu a influência direta e indireta das mudanças do contexto. Contexto que apresenta não uma, mas várias realidades, tão díspares que podem levar alguns estudiosos a evitar, inclusive, de assumir uma periodização para estudar a televisão. Isso se deve à anomalia que é a nossa história contemporânea, que torna quase impossível a tarefa de estabelecer uma periodização de acordo com os rigores da historiografia, sob pena de apresentar distorções. Assim sendo, ao concentrar a atenção apenas em certos aspectos como, por exemplo, econômicos, performances técnicas e condições de produção, corre-se o risco de desconsiderar outras peculiaridades históricas que participam diretamente do processo. É preciso considerar que a política do país sempre oscilou de acordo com as tendências mundiais e ideológicas vigentes.
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